Skip to content

Alinhamento

Imagine um fluido em um recipiente. As partículas desse fluido (moléculas de água) estão sempre em movimento aleatório, sem direção fixa, sem destino. Elas estão em todos os pontos ao mesmo tempo, com igual probabilidade.

Assim são os nomi: presentes em toda parte, mas sem ação, intenção ou forma. Quando aparece um ralo — um evento, uma mente, um contexto específico —, todas as moléculas que por acaso colidirem com ele, passam a ter trajetória definida, entram em outro domínio.

Esse momento é o alinhamento: um nomus deixa de ser apenas possibilidade e passa a atuar no universo material.

Um nomus pode ser percebido pela mente em cada conformação que o cérebro adquire com suas sinapses, como uma luva que se encaixa em uma mão.

O que faz com que o cérebro adquira aquela conformação específica que possibilitou o alinhamento é um processo complexo para se compreender em sua totalidade, mas há heurísticas (técnicas que conduzem à descoberta) de ação externa conhecidas, como a comunicação, educação, cultura, violência, consumo de substâncias, entre outras formas de estímulo mental recebidos pelos sentidos.

Além de alinhamentos sensoriais, o cérebro é capaz de se modificar sozinho pelo raciocínio, paixão, emoção ou quaisquer outros sentimentos.

Todo nomus descoberto pelo ser é alinhado com o cérebro. Como um conjunto infinito de letras, nosso cérebro, ao embaralhá-las, eventualmente revela, ou alinha, algum nomus. Essa mistura pode ser intencional, que conduz a resultados desejáveis com mais eficiência, ou aleatória, capaz de oferecer inovações ofuscadas pela racionalidade.

O alinhamento é um mecanismo que permite transformar nomi em estruturas operacionais perceptíveis, compreensíveis e comunicáveis.

O instanciamento é o ato de ativar um nomus alinhado. Quando um nomus se torna perceptível, compreensível, manipulável ou integrável dentro de uma mente, diz-se que ele foi instanciado.

A externalização é o processo pelo qual um nomus se projeta para fora da mente, podendo se tornar parte do universo nomial. Isso pode ocorrer por meio de linguagem, escrita, arte, gesto, ação, símbolo, som, matemática, código, arquitetura ou qualquer outro meio de formalização perceptiva.

Nomi instancidos ou externalizados se relacionam em um fenômeno que o jamismo denomina de emaranhamento.

Um nomus externalizado pode adquirir uma espécie de vida própria, uma existência disseminada em outras mentes. Quando isso ocorre, mesmo que a pessoa que primeiro o externalizou morra ou negue, o nomus permanece no universo material. O jamismo chama isso de instanciamento nomial externo.

Carl Gustav Jung define o inconsciente coletivo como um modelo que descreve conteúdos, imagens e padrões universais que se manifestam em diferentes culturas e indivíduos, independentemente da experiência pessoal direta.

Na pré-história esse instanciamento ocorria através de tradição oral, pela dança ou música, principalmente.

Por definição, a história de uma civilização começa com a escrita. Então o nomus encontra uma forma mais eficaz de instanciamento externo. Passaram a habitar:

  • Tábuas de argila
  • Papiros
  • Pergaminhos
  • Manuscritos
  • Livros impressos
  • Discos magnéticos
  • Arquivos digitais
  • Memes de redes sociais

Cada novo meio trouxe novas limitações e possibilidades.


Referências e Fundamentação

1. Alinhamento e Plasticidade Cerebral

  • Donald Hebb, “The Organization of Behavior” (1949): Introduz o conceito de plasticidade sináptica, mostrando como padrões de atividade cerebral moldam conexões e percepções.

  • Eric Kandel, “In Search of Memory” (2006): Explica como experiências e estímulos externos modificam fisicamente o cérebro.

2. Heurísticas e Descoberta

  • Herbert Simon, “The Sciences of the Artificial” (1969): Define heurísticas como estratégias práticas para resolver problemas complexos.

  • Daniel Kahneman, “Thinking, Fast and Slow” (2011): Explora como heurísticas influenciam decisões e percepções.

3. Externalização e Cultura

  • Lev Vygotsky, “Pensamento e Linguagem” (1934): A linguagem como mediadora do pensamento e da externalização de conceitos.

  • Walter J. Ong, “Orality and Literacy” (1982): Analisa a transição da tradição oral para a escrita e seu impacto na transmissão do conhecimento.

4. Instanciamento e Memória Coletiva

  • Maurice Halbwachs, “A Memória Coletiva” (1950): Como ideias e narrativas se perpetuam além do indivíduo, tornando-se parte do imaginário coletivo.

  • Richard Dawkins, “O Gene Egoísta” (1976): Introduz o conceito de “meme” como unidade de transmissão cultural, similar ao nomus externalizado.

  • Carl Gustav Jung, “O Eu e o Inconsciente” (1928) e “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo” (1959): O inconsciente coletivo como repositório de imagens, símbolos e padrões universais que se manifestam em diferentes mentes e culturas, funcionando como um modelo de instanciamento nomial compartilhado.