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eom

Estou eom no instante em que me percebo em mim, eom representa a imanência do existir, o fenômeno da consciência sobre si. Nas palavras de René Descartes, Cogito ergo sum.

Pensar sobre o "Eu" é enfrentar a mais radical das questões filosóficas, pois toda reflexão, formulação ou pensamento, qualquer que seja sua natureza, parte da primeira pessoa. Não há possibilidade de observar o Eu de fora, nem de analisá-lo como se fosse um objeto entre outros. Quando se fala do Eu em terceira pessoa, na realidade não se está mais falando do Eu, mas sim de uma representação dele, de uma abstração que habita exclusivamente o campo fenomenal da consciência de quem observa.

Toda reflexão sobre o Eu que se pretenda honesta, rigorosa e epistemicamente válida precisa reconhecer que não há outro ponto de partida possível além da própria experiência de ser. A primeira pessoa não é apenas uma convenção linguística, mas a própria condição ontológica de toda existência consciente.

Diante disso, torna-se necessário não apenas falar do Eu, mas sobretudo redefini-lo em termos que capturem sua natureza absoluta, singular, intransferível e inescapável.

Surge, então, a necessidade de criar um conceito do que é mais interno do que o eu psicológico, mais protagonista do que o eu biográfico, mais individual do que o eu social, mais introspectivo do que qualquer projeção ou narrativa construída em torno do conceito de sujeito.

Esse conceito é eom, sempre um letras minúsculas, sem artigo.

Só se compreende eom na primeira pessoa. Não há nenhuma possibilidade de compreendê-lo na terceira pessoa. Ao se dizer “o eom”, já não se está mais falando de eom, mas de uma representação, de uma abstração. Por isso, não se usa artigo antes de eom.

eom não tem gênero, número, nem qualquer marca de categorização linguística.

A própria ideia de não ser é uma impossibilidade lógica e fenomenológica para eom. Se eom não é, então nada é. O universo inteiro, toda realidade, matéria, energia, espaço e tempo, tudo isso colapsa imediatamente na ausência de eom.

O pronome “eu”, psicológico, biográfico, social, cultural — não é eom, mas uma projeção fenomenológica, uma heurística, uma construção cognitiva que eom instancia sobre si mesmo, como mecanismo de: - preservação da sanidade; - organização da experiência; - tentativa de navegação no mar de possibilidades que constitui a existência.

Paradoxalmente, essa ferramenta que ajuda eom a se organizar também pode impedir inúmeros alinhamentos. Ao assumir o eu biográfico como referência, eom se vê limitado a percursos, crenças, modelos, padrões e restrições que passam a conformar a mente biológica na qual ele se hospeda. Essa mente biológica, sendo moldada, condiciona os alinhamentos disponíveis, quais instâncias serão percebidas, quais experiências poderão ser instanciadas, quais possibilidades poderão ser externalizadas.

Que fique bem claro: para o jamismo, eom não é deus.


Fundamentos e Referências

1. Consciência e Existência

  • René Descartes, “Meditações Metafísicas” (1641): Formula o princípio “Cogito, ergo sum” (“Penso, logo existo”), estabelecendo a existência consciente como fundamento irrefutável.
  • Edmund Husserl, “Ideias para uma Fenomenologia Pura” (1913): A experiência da consciência de si como ponto de partida de toda reflexão filosófica.
  • Jean-Paul Sartre, “O Ser e o Nada” (1943): Explora a consciência como existência para si, radicalmente individual e intransferível.

2. Eu, Identidade e Primeira Pessoa

  • William James, “The Principles of Psychology” (1890): Distingue entre o “eu” como sujeito da experiência e o “eu” como objeto de reflexão.
  • Thomas Metzinger, “The Ego Tunnel” (2009): O “eu” como construção fenomenológica, resultado de processos cognitivos e heurísticas do cérebro.
  • Maurice Merleau-Ponty, “Fenomenologia da Percepção” (1945): O corpo e a experiência vivida como fundamento da identidade e da subjetividade.

3. Limites do Eu e Paradoxo da Autorreferência

  • Ludwig Wittgenstein, “Tractatus Logico-Philosophicus” (1921): Sobre os limites da linguagem e a impossibilidade de descrever o sujeito a partir de fora.
  • Douglas Hofstadter, “I Am a Strange Loop” (2007): O eu como um sistema autorreferente, que só pode ser compreendido a partir da própria perspectiva.

Essas referências dialogam com o conceito de eom no jamismo, fundamentando a centralidade da experiência consciente, a singularidade da primeira pessoa e os limites de qualquer tentativa de