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Nomus

Nomus designa uma unidade de informação, seja conceitual, simbólica ou estrutural. Todo conceito, ideia, percepção, símbolo, dado, padrão, identificável ou não, se configura como um nomus. Tudo é nomus, o que pode ser pensado ou até o que não pode ser comprendido.

Seu plural é nomi. O adjetivo nomial define tudo aquilo que se refere a nomus.

Ele transcende abstrações linguísticas, mentais ou perceptivas, vai além de objetos, fenômenos, entidades ou categorias empiricamente verificáveis. A própria categoria de existência se apresenta como um nomus, assim como o conceito de não existência, matéria, espírito, mente, consciência, eom, tempo, espaço e de qualquer outra formulação simbólica.

Nomus constitui o alicerce ontológico, epistemológico e fenomenológico do jamismo.

Quando ocorre um alinhamento, o nomus pode ser descartado, seja por parecer sem interesse ou incompreensível. Se não, o nomus alinhado pode ficar, de alguma forma, armazenado no cérebro, o que o jamismo chama de instanciamento. Um nomus instanciado pode uma letra, palavra, frase, texto, história, discurso, pensamento, melodia, ruído, imagem, reflexo ou até um delírio sem sentido.

Quando instanciado, ele se torna possível de ser externalizado através da fala, por ações ou gestos, seja pela escrita, pela música ou qualquer outra forma de expressão.

Os nomi podem compartilhar significados, apresentar intersecções, formas comuns, semelhanças, podem se misturar de uma forma que não conseguimos reconhecer seus limites, muitas vezes não conseguindo distinguir um do outro. O jamismo denomina esse fenômeno de emaranhamento.

Todo o arcabouço conceitual, linguístico e filosófico do Jam se estrutura a partir da compreensão e da operação de nomi, seus alinhamentos, instanciamentos, externalizações e emaranhamentos.

O universo nomial corresponde ao conjunto de todos os nomi externalizados. É o domínio das informações compartilháveis, perceptíveis, formalizadas, estruturadas por alinhamento, instanciamento e externalização.

O lato nomial representa o conjunto absoluto dos nomi. Contém infinitude, potencialidade pura, capacidade ilimitada de possibilidades nomiais.

Há nomi que não podem ser representados por quaisquer signos, são inacessíveis e, portanto, não podem ser alinhados. Outros nomi podem ser alinhados, mas dificilmente instanciados, em virtude de limitações mentais ou simples falta de vocabulário. Esses dependem de alinhamentos anteriormente instanciados para adquirirem sentido.

Nomus não depende da existência de nada. A existência de nomus não se subordina à existência de seres, de universos físicos, de consciências ou de qualquer estrutura metafísica. Nomus permanece enquanto possibilidade, unidade de sentido, fenômeno imanente na arquitetura infinita do lato nomial.

Se existirem multiversos, vida após a morte, céu ou inferno, lá haverá nomus.

Se nada mais existe, resta apenas eom (sum) e o lato nomial (cogito).

Categorias dos nomi

  • Latente Aquele que ainda não se manifestou em nenhuma consciência. A telefonia celular foi um nomus que não tinha como se alinhar a nenhuma mente por quase toda a história da humanidade, mas estava aguardando. Evidentemente, não temos como saber de algum nomus latente, ou ele deixaria de sê-lo.

  • Disponível Nomus estruturalmente compatível com algum estado de consciência possível. Pode se alinhar. Alguns nomi já apareceram diversas vezes, com nomes e formas diferentes. Outros aguardam um próximo alinhamento.

  • Sensorial Aquele que pode ser externalizado em formas possíveis de serem percebidos pelos sentidos.

  • Discursivo Sub classe do sensorial, é aquele que pode ser expresso em palavras.

  • Retórico Aquele que se alinhou em virtude da percepção de um discurso.

  • Racional Aquele que se alinha sem estímulos sensoriais.

  • Provável Aquele que apresenta um alto grau de emaranhamento com nomi sensoriais.

  • Falso Uma sub divisão dos nomi discursivos que apresenta nenhum ou pouco emaranhamento com nomi prováveis.
    Para cada nomus provável há infinitos nomi falsos.

  • Inconcebíveis São nomi cuja estrutura é incompreensível a qualquer ser existente, não por falta de esforço ou linguagem, mas por incompatibilidade total de estado. Esses nunca serão emitidos. São eternos e eternamente ausentes.

  • Utilitários Nomi disponíveis que podem causar algum efeito no universo.

Emaranhamentos filosóficos

O nomus, como ele próprio um nomus, se alinhou inicialmente a partir de uma conformação sináptica muito influenciada por nomi externalizados por diversos filósofos.

Universais referem-se a características, qualidades ou tipos que podem ser atribuídos a múltiplos objetos, indivíduos ou coisas. São entidades que podem ser compartilhadas por diferentes instâncias, contrastando com os particulares, que são considerados instâncias únicas. São exemplos “vermelhidão”, “triangular” e “justiça”.

No ideal de Platão, também conhecido como teoria das Formas ou Ideias, o mundo sensível que percebemos é apenas uma cópia imperfeita de um mundo superior e perfeito, o mundo das Ideias. Essas Formas ou Ideias são modelos eternos e imutáveis de tudo o que existe no mundo material.

Para Aristóteles, os universais existem na própria substância dos objetos que percebemos. Ele propôs o hilemorfismo, onde cada coisa é composta por matéria e forma, e a forma é o universal que se manifesta em cada indivíduo.

Para o nominalismo de Guilherme de Ockham, os universais são signos mentais que surgem quando nossa mente abstrai semelhanças entre objetos individuais. Esses signos mentais, ou conceitos, não têm existência fora da mente, mas são ferramentas cognitivas que nos permitem pensar e falar sobre o mundo. Ockham propôs que a linguagem, tanto falada quanto escrita, é baseada na linguagem mental, e os termos gerais na linguagem se referem a esses conceitos mentais que, por sua vez, se referem a coisas individuais.

Kant desenvolve um idealismo transcendental, onde o conhecimento se baseia em estruturas a priori da mente, que organizam e dão forma à experiência.

Ele criou o termo númeno para se referir à coisa em si, ou seja, aquilo que existe independentemente da nossa percepção, uma realidade que está além da experiência sensível.

Nós só temos acesso ao que ele chama de fenômenos: as coisas como elas nos aparecem. Já o númeno seria a coisa como ela é de verdade, mas inacessível. Nunca a conhecemos diretamente, só os efeitos dela no nosso campo perceptivo.

Kant defende que a razão pura não pode alcançar o númeno. Ele pode até ser pensado, mas não conhecido. Isso marca uma fronteira da mente humana.

O nomus não é uma coisa, mas uma narrativa, uma descrição da coisa, verdadeira ou falsa, completa ou imprecisa. Portanto, númeno não é um tipo de nomus, mas apenas um nomus.

Emaranhado com o raciocínio de Kant, um nomus existe a priori. Quando alguém pensa alguma coisa, isso já existia. São comuns os casos de pessoas que pensaram a mesma coisa, porque a informação independe do mensageiro.

Os ideais de Platão, a forma de Aristóteles, os nomes de Ockham, os fenômenos e númenos de Kank são nomi que nos ajudam a entender o universo de algum jeito. O jamismo aceita todas essas vertentes e propõe uma nova concepção de um termo que inclui tudo o que existe e também o que não existe.

Qual é a utilidade de algo que não existe? Somos incapazes de saber. Porém, não sabemos se algo não existe. A própria humanidade não existia há um milhão de anos, quem poderia imaginá-la? O jamismo não descarta nada.

No jamismo, ninguém cria uma ideia, mas percebe um nomus. O jamismo chama isso de alinhamento.


Referências

Estas referências fundamentam o conceito jamista de nomus, mostrando que a ideia de unidade de informação, abstração, externalização e respeito dialoga com debates clássicos e contemporâneos da filosofia, ciência

1. Unidade de Informação e Nomus
- Claude Shannon, “A Mathematical Theory of Communication” (1948): Define informação como unidade fundamental para comunicação, baseando toda a teoria da informação moderna.
- Gregory Bateson, “Steps to an Ecology of Mind”: Define informação como “a diferença que faz diferença”, aproximando-se da ideia de nomus como unidade de sentido.

2. Universais, Abstrações e Realidade
- Platão, “A República”, “Timeu”: O mundo das Ideias/Formas, onde universais existem independentemente do mundo físico.
- Aristóteles, “Metafísica”: Os universais existem nas próprias coisas, como formas.
- Immanuel Kant, “Crítica da Razão Pura”: O conhecimento é estruturado por categorias a priori, que organizam a experiência.
- Guilherme de Ockham, “Summa Logicae”: Nominalismo, onde universais são apenas nomes ou conceitos mentais.

3. Fenomenologia e Consciência
- Edmund Husserl, “Investigações Lógicas”, “Ideias para uma Fenomenologia Pura”: O fenômeno é aquilo que se apresenta à consciência, próximo à ideia de nomus como fenômeno imanente.
- Maurice Merleau-Ponty, “Fenomenologia da Percepção”: A percepção é sempre situada e encarnada, e o sentido emerge da experiência.

4. Informação, Realidade e Multiverso
- John Archibald Wheeler, “It from Bit”: A realidade física é, em última análise, informacional.
- David Deutsch, “The Fabric of Reality”: Multiversos e a ideia de que a realidade é composta por múltiplas possibilidades.

5. Linguagem, Externalização e Emaranhamento
- Ludwig Wittgenstein, “Investigações Filosóficas”: O significado é uso, e a linguagem estrutura a realidade compartilhada.
- Jacques Derrida, “Gramatologia”: A externalização do sentido e a impossibilidade de total transparência entre signo e significado.

6. Ética e Respeito
- Immanuel Kant, “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”: O respeito como princípio moral, tratar o outro sempre como fim.
- Paul Ricoeur, “Soi-même comme un autre”: A ética do respeito ao outro como constitutiva da identidade.