Nome
O nome JAM é um acrônimo cuidadosamente escolhido para expressar, com precisão e ironia, a essência filosófica e espiritual da religião que propõe. Antes de estabelecer o que o JAM acredita, é necessário compreender o que seu nome carrega em termos históricos, conceituais e simbólicos. Para isso, é preciso analisar cada uma de suas três palavras: Jedaísmo, Agnóstico e Moderado.
- Jedaísmo
O Jedaísmo é uma religião criada por fãs e seguidores de uma série famosa de filmes. O jamismo é uma vertente.
O termo "Jedaísmo" remete também à palavra "jeda", uma forma condensada e inventada que pode sugerir juízo, ideia, identidade ou até mesmo uma brincadeira fonética com "jedi", uma figura mítica moderna associada à sabedoria e ao autocontrole. Com isso, torma-se um nome carregado de múltiplas camadas: tradição, ruptura, imaginação e crítica.
Literariamente, ele funciona como um nome de escola, como estoicos, epicuristas, ou até como sufismo. O "ismo" indica que há uma doutrina, mas o nome é fictício, o que já coloca o jamismo em posição de observar a si mesmo como sistema — e também rir de si mesmo.
- Agnóstico
O termo "agnóstico" foi cunhado por Thomas Huxley no século XIX, como contraposição tanto ao teísmo quanto ao ateísmo. A posição agnóstica é aquela que reconhece os limites do conhecimento humano, especialmente diante de perguntas metafísicas como a existência de Deus, a origem do universo, ou o destino da alma.
No contexto do JAM, o agnosticismo não é uma posição passiva ou cética no sentido vulgar. Trata-se de um reconhecimento consciente das fronteiras da razão e da linguagem, em linha com pensadores como Kant (que estabeleceu a impossibilidade de conhecer o númeno) e Wittgenstein (que afirmou: "do que não se pode falar, deve-se calar").
O agnosticismo no JAM é, portanto, um método de humildade ontológica: não negar ou afirmar, mas manter a clareza de que certas estruturas, como os nomi, não são objetos de fé, mas de alinhamento. Não se crê em um nomus. Alinha-se a ele, ou não.
A visão dualista de René Descartes também contribui para a reflexão jamista sobre a existência. Para Descartes, o corpo pertence ao mundo físico, podendo ser descrito em termos de extensão, movimento e matéria. Já a mente é uma substância imaterial, responsável pelo pensamento, autoconsciência e percepção. A mente, para ele, não segue as leis da física e não pode ser explicada pelos mesmos termos que o corpo.
Essa separação entre corpo e mente, ainda que questionada posteriormente, inspira o jamiota a compreender a consciência como um campo compatível com a percepção de estruturas eternas, como os nomi. Assim, a mente seria o meio pelo qual certos alinhamentos se tornam possíveis, mesmo sem que haja causalidade material envolvida.
A pergunta clássica — como corpo e mente podem interagir, se são substâncias tão distintas? — encontra no JAM uma formulação alternativa: não há interação, há compatibilidade. O cérebro, sendo parte do corpo, pode atingir estados que permitem o alinhamento com nomi específicos. O nomus não atua sobre o corpo, nem a mente sobre ele; o que ocorre é que o cérebro, ao atingir determinada configuração, ressoa com uma estrutura que já existia. Isso basta para que a consciência tome ciência de um nomus. Esse é um tipo de conexão possível e suficiente.
A separação entre corpo e mente teve implicações profundas, tanto na filosofia quanto na ciência.
No campo da filosofia, o dualismo cartesiano gerou debates sobre a natureza da consciência e da identidade pessoal.
- Se a mente é separada do corpo, o que significa ser "eu"?
- A mente é a verdadeira essência da pessoa, ou a identidade é uma combinação indissolúvel de mente e corpo?
Essas questões ainda ecoam na filosofia contemporânea, especialmente nos debates entre o dualismo e o fisicalismo, que é a visão de que tudo pode ser explicado em termos materiais.
O JAM propõe uma resposta: eu sou um nomus. Sou eom, imanência do eu, composto de tudo o que percebi pelas sensações, com os nomi alinhados e instanciados em meus pensamentos. Meu corpo se vai, eom ficará onde sempre esteve: fora do espaço e do tempo. Essa identidade que vivencio não é apenas a soma de matéria e mente, mas o padrão irrepetível de alinhamentos que ocorreu durante minha existência. Essa é minha marca.
- Moderado
O termo "moderado" carrega múltiplas ironias e profundidades. Em um mundo de posições extremas, onde as crenças tendem ao dogmatismo ou ao niilismo, o JAM escolhe a moderação como princípio estrutural.
Moderado significa reconhecer a medida das coisas, ecoando a tradição grega do meden agan (nada em excesso), a temperança da filosofia clássica e a justa medida de Aristóteles.
A moderação no JAM se aplica à linguagem, ao julgamento, à prática espiritual e ao humor. Trata-se de manter um equilíbrio entre o rigor filosófico e a leveza existencial, entre o mistério e a clareza, entre o sagrado e o cômico. A moderação é o campo onde o agnosticismo pode florescer sem cair em paralisia.
O que significa JAM, afinal?
JAM é uma religião e um sistema de pensamento e prática que reconhece: - A existência de estruturas eternas e impassíveis de sentido (nomus - A possibilidade de alinhamento entre consciência e essas estruturas (epifania); - A necessidade de descrever essas experiências com humildade, clareza e honestidade; - A responsabilidade de instanciamento como um ato ético; - O valor da dúvida, da crítica, da linguagem precisa e da expressão criativa.
O JAM reconhece a legitimidade de todas as religiões, filosofias e tradições como expressões possíveis de alinhamentos nomiais. Cada sistema oferece perspectivas e heurísticas que podem contribuir ao entendimento de si e do mundo.
O JAM não pede conversão nem promete salvação, mantém seus princípios sempre abertos ao questionamento. Seu único milagre é o pensar consciente com leveza. Seu único ritual fixo é a JAM Session — encontro para discussão filosófica regada a música, humor e escuta.
É uma forma de organizar a admiração diante da possibilidade de sentido, sem precisar de mitos sobrenaturais ou hierarquias. É uma proposta séria e provocadora, mas sempre moderada.
Jamaísmo é filosofia, religião e arte da incerteza. Ser jamiota é celebrar a dúvida com moderação e rir.
Ou não.